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Viagem de Daniel Chapo em jato de luxo gera críticas em meio a crise social e econômica
Maputo – A recente deslocação do Presidente Daniel Chapo ao Malawi, realizada num jato privado de luxo, está a gerar fortes reações e críticas por parte da sociedade civil e analistas políticos. A viagem acontece num momento de grande instabilidade económica em Moçambique, marcado por níveis alarmantes de pobreza, precariedade nas escolas e uma dívida pública considerada insustentável.
Fontes próximas à Presidência confirmam que o Chefe de Estado optou por alugar uma aeronave privada para a visita oficial ao país vizinho, destinada à inauguração de um posto fronteiriço e ao fortalecimento das relações bilaterais. O custo do aluguer do jato ronda os 11 mil dólares por hora de voo, equivalente a cerca de 700 mil meticais.
A decisão do Presidente está a ser amplamente questionada por ocorrer num contexto em que cerca de 77% das crianças moçambicanas vivem em situação de pobreza extrema. Em várias regiões do país, escolas funcionam sem carteiras, com alunos a estudar ao relento, e programas de alimentação escolar têm sido afetados por cortes orçamentais, agravando problemas como a desnutrição, os casamentos prematuros e a violência contra menores.
Durante uma visita recente à província da Zambézia, o próprio Daniel Chapo reconheceu a gravidade da situação nas escolas, afirmando que "não faz sentido que, num país rico em recursos florestais, as crianças estudem sentadas no chão". No entanto, segundo analistas, a opção por um meio de transporte luxuoso contradiz o discurso presidencial e evidencia um distanciamento em relação à realidade da maioria da população.
A viagem levanta ainda mais controvérsia tendo em conta as metas anunciadas pelo governo para cortar despesas públicas, incluindo a promessa de reduzir a máquina do Estado e poupar 17 mil milhões de meticais por ano. Para muitos observadores, os recursos gastos com o voo poderiam ter sido canalizados para áreas prioritárias como educação, saúde e apoio às comunidades carenciadas.
O analista político Gift Essinalo destaca que decisões como esta enfraquecem a confiança da população nas instituições: “É preciso que o governo dê sinais claros de compromisso com os mais pobres. A ostentação apenas agrava a frustração popular”, afirmou.
Desde outubro de 2024, Moçambique tem sido palco de manifestações marcadas por confrontos violentos, que resultaram em mais de 300 mortos. O ambiente de tensão social é intensificado por decisões governamentais que, aos olhos de muitos, demonstram incoerência entre promessas e ações concretas.
Num país onde milhares de crianças continuam a estudar debaixo de árvores, a imagem de um Presidente a sobrevoar os céus em jatos de luxo torna-se símbolo de uma governação desconectada das urgências do povo.